Domingo. Jogando paciência e pensando no que escrever para amanhã n’oescambal. Nada. Não vou escrever nada. Não tenho nada para dizer. Pouco me importa o furdunço no Oriente Médio. Querem entender o que está acontecendo lá? Talvez o Said Ali explique. Eu não. Não tenho nada a ver com aquilo. Não sou Judeu, Libanês, nem muçulmano. Ou seja, esta guerra não é minha. Petróleo? Que queimem toda essa merda que só polui. Para que precisamos de plástico?
Eu poderia não falar das eleições. E não vou falar das eleições. O Lula vai se reeleger no primeiro turno, em Santa Catarina o Luis Henrique também. Não vou votar também. Ainda não transferi meu título de eleitor para Florianópolis. Aliás, não é uma pândega essa propaganda eleitoral? Educação, saúde e segurança. Quem é contra isso? quem é contra redução de impostos? Não há debate. Troca de idéias. Como trocar idéias que não existem? “Cuidar das pessoas”, que discurso vazio. Claro que você vai cuidar das pessoas animal! Vai cuidar de quem? Mesmo que só arrume emprego para seus parentes, ainda assim ninguém poderá negar que apesar de poucas, você cuidou de algumas pessoas.
Eu poderia falar da situação econômica, da falta de trabalho. Mas como estou trabalhando, não vejo falta de trabalho. Trabalho há, o problema é encontrar ele. Quando vejo o desinteresse dos meus alunos vejo porque o país vai mal. Vejo porque daqui a dez anos muitos deles estarão ali na propaganda eleitoral reclamando da falta de trabalho, da falta de transporte público, da falta de saúde, da educação precária dos seus filhos. Ainda não entendi porque tem muito pai que não se preocupa com a educação dos filhos. Claro que nem todos saem da escola intelectuais. Nem da universidade saem intelectuais. Da escola sairão pedreiros, cozinheiros, garçons, motoristas, ambulantes, prostitutas, barmans, publicitários, jornalistas, assassinos, corruptos, funcionários públicos. Sai todo tipo de gente da escola. Mas por que essas pessoas que saem, quando vêem que seus filhos estão lá, nas mesmas cadeiras sujas, comendo o mesmo pó de giz que eles comeram não fazem alguma coisa para que seus filhos tenham uma educação melhor? Não sei. Cansei de pensar sobre isso. passei quatro anos da minha faculdade pensando sobre isso. Nos dois anos do mestrado não pensei sobre isso. Agora que estou diariamente encarando crianças, algumas inteligentes, outras preguiçosas e desinteressadas, vejo que a culpa não é de ninguém. Não é minha que sou professor, não é do diretor da escola, não é da orientadora educacional, não é do pai, não é do governador, é de todo mundo.
Eu poderia falar também dos filmes que não vi: do filme novo do Almodovar, que não chegou aqui ainda. Do Zuzu Angel, do novo filme do Cacá Diegues, do Doce Vida do Fellini que revi Sábado à noite e vi muita coisa que tinha me passado despercebida, como aquele palhaço que entra tocando uma música triste no trompete, no Cha-cha-cha, onde Marcelo leva seu pai para tomar umas e ver a mulheres dançar, e depois quando ele sai os balões vão seguindo o trompetista. A religiosidade mais uma vez fulcral. O santo carregado pelo helicóptero, Anita Ekberg no Vaticano, as crianças que juram terem visto Nossa Senhora, fantástica cena, o desespero das pessoas destruindo a árvore para pegar os galhos e folhas do suposto lugar onde ela teria aparecido, seria a fé a última coisa que lhes resta, numa Roma em reconstrução? Sem rumo como o personagem do Mastroiani, errando em busca de algo que não sabe bem o que é? Mas não quero falar de cinema, nem do X-men III, que ainda não vi, nem que o Lázaro Ramos fazendo comédia lembra muito o Grande Otelo.
Também não vou contar que encontrei a primeira edição da “Trombeta do Anjo Vingador” do Dalton Trevisan, que ia dar o livro de presente mas não vou mais. Também não vou contar porque não vou dar mais o livro de presente. Eu poderia falar que reli “Memórias Sentimentais de João Miramar” e fiquei feliz por ter compreendido um pouco melhor do estilo do Oswald. Já contei que comprei em São Paulo o volume de poesia da sua obra completa? Pau-Brasil e o Caderno juntos. Delícia. Cada vez mais adoro ele. Também estou lendo o “A insustentável leveza do ser”, do Kundera. Descobri que o livro estava na lista dos mais vendidos de oitenta e cinco. E na locadora aqui perto de casa tem o filme. Mas só vou ver depois de terminar de ler o livro. Putz. Nessa locadora tem também o “lavoura arcaica” e “taxidriver”, é, aquele do Scorsese com o de Niro. Mas ainda não os aluguei. Vai ficar para uma próxima. Ainda quero ver “Crianças invisíveis”, pelo trailler parece ser ótimo.(coragem! está acabando).
Tanta coisa acontecendo por aí, e eu aqui no final de tarde de um Domingo azul, pensando em coisas para não escrever no meu texto de segunda-feira no blogue. Essa mania de querer parecer inteligente, de querer mostrar que sei mais coisas do que sei na verdade, de querer ainda conversar com as pessoas sobre isso. De acreditar que isso possa de alguma forma me ajudar em ter um trabalho melhor, como naquela reportagem de uma Trip que li, sobre pessoas que montaram seus próprios trabalhos, com design, editoras alternativas, produtoras, gravadoras, moda, há tanta coisa legal por aí, só falta aquele insight para tocar pra frente. Mas para quê? A vida é legal assim, ganhar pouco, cumprir horário, pegar ônibus todo dia, ir pouco ao cinema, ter pouco tempo para ler e estudar, menos ainda para escrever. Mas para que ler, escrever, estudar? Você já não saiu da escola? Bom, sobre isso tudo, acho que não tenho nada a declarar mesmo. Entre a miséria do mundo e a fantasia, entre a realidade e o cinema, eu fico cá com minhas poesias e devaneios. E projetos feitos de nuvens e algodão doce. (ufa! terminou...)
Luisandro posta aqui nas segunda sempre algo de sexta.
ps. fui o visitante número 2000.
L. M. de Souza 2:24 PM