FELLINI, OITO E MEIA, SARAVÁ EM COPACABANA

Conta a lenda que Fellini, antes de filmar “Otto e Mezzo”, estava, assim como Guido, vivendo uma tremenda crise existencial que afetou significativamente seu processo criativo. A solução para esse problema não foi encontrada apenas na tentativa de representar no filme o drama da criação. O que poucos sabem é que Fellini encontrou a solução para seu drama aqui no Brasil. Quem me contou a história foi meu tio Marcelo.
1961, oito e meia da manhã, Copacabana. Meu tio caminhava pela praia quando encontrou Fellini agachado na areia, preparando o que parecia ser uma oferenda a orixás. Tio Marcelo reconheceria Fellini a quilômetros de distância. Fellini, arriscando um portunhol meio xucro, sorriu ao encontrar um admirador de seus filmes em plena manhã carioca. Confessou que vivia um drama artístico e que procurou uma mãe de santo brasileira que morava na Itália. Mãe Manuela alertou que o “branco criativo” só findaria com uma viagem secreta ao Brasil. No Rio de Janeiro, Fellini deveria procurar um terreiro. Lá, seria orientado sobre o ritual que deveria realizar oito e meia da manhã, em Copacabana.
Antes de partir, Fellini reencontrou meu tio em um restaurante. Tinham combinado de almoçarem juntos. O italiano estava animadíssimo e muito satisfeito com o resultado da “macumba para turistas”. Tão satisfeito que chegou a escrever, em apenas um dia, o roteiro de um filme, que pretendia rodar no Brasil.
“Divina Comédia Tropical” seria uma adaptação do famoso texto de Dante, lido á luz do calor dos trópicos. A história começaria em Rimini, que figuraria o inferno criativo de um escritor, onde o fogo queima a alma, onde o frio congela a imaginação. Em busca de uma solução, Dalton, o personagem principal, viajaria pelo Atlântico, o purgatório, até chegar ao paraíso-tropical-brasileiro, onde várias seqüências seriam rodadas com suculentas mulatas, gordas baianas de grandes tetas, e muito carnaval. Felliniano, não? A busca não de Beatriz, mas a de uma boa atriz, a razão da criação, onde tudo faz sentido. Conta a história que o filme fantasma nunca saiu do papel, o que para o meu tio Marcelo nunca fez sentido.
caio ricardo bona moreira 1:55 PM