OESCAMBAL
quinta-feira, novembro 30, 2006
Caio Ricardo Bona Moreira

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O FOTÓGRAFDO, O PARQUE, O THOMAS E O CLICK


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Imagem: Parque - Lúcio Passos

FOTO 1

O fotógrafo entrará no parque. Ainda será dia. As luzes, paraísos artificiais, ainda não estarão acesas. O fotógrafo ainda não chegou ao parque. Enquanto circulará com o automóvel pelos arredores da cidade, lembrará do Thomas. O Thomas, do Antonioni, aquele que topa a parada de um jogo imaginário. A máquina fotográfica estará no banco de trás. Ele lembrará que decidiu ser fotógrafo depois que conheceu o Thomas. Decidiu “ser”, só isso, como se acreditar que a existência pudesse ser decidida fosse possível. Ser é só uma opção ou um campo de possibilidades, não é assim?

FOTO 2

O fotógrafo não dormirá esta noite. Ele não sabia. Quem morre dorme para sempre ou nunca mais dorme? Ele morrerá esta noite, mas ainda não sabe nem como será. Depende do ponto de vista, pensou ele, lembrando do Thomas. Ele poderia ter decidido outra coisa. Poderia ser estilista, já que gostara bem mais das roupas do filme. Poderia virar um músico, já que gostara bem mais das músicas do filme. Não, ele virou um fotógrafo. Ele não morreria mais esta noite. Pelo menos não por vontade própria. Ele não sabe. Talvez mudasse de idéia.

FOTO 3

O fotógrafo ligará para a mãe lá pelas dez da noite. Pedirá a sua benção, mesmo não acreditando em anjos ou demônios. O céu e o inferno é todo mundo. O fotógrafo falará com a sua companheira de quarto antes de ligar para a mãe. Ela pedirá para ele escolher para ela uma das roupas que deve usar para a sessão de fotos. A mãe ou a moça? A moça. Ele pedirá para que ela tire a roupa e ela tirará, só para agradá-lo. Assim ele pensa. Assim ele tira mesmo as fotos. Será?

FOTO 4

Teria sido um parque da cidade, daqueles só com árvores e namoros escondidos e um possível assassinato? Terá sido um parque de diversões. O fotógrafo pensará que as confusões geradas pelas imagens são sempre menores do que aquelas geradas pela palavra. Quem inventou a palavra parque? Ah, essa palavra fantasia.

FOTO5

O fotógrafo chegará ao parque antes do anoitecer. Contará as moedas no bolso, sem, no entanto, tirá-las. Contará para a sua companheira de quarto que contou todas as árvores do parque, ou os bichos do zoológico, ou os assentos da roda-gigante. Quem saberá? Contará tudo e depois nunca mais encostará seus dedos da sua máquina fotográfica. Preferirá a máquina do mundo, ou a máquina de escrever, ou a máquina de pensar. A máquina repensada. Roda moinho, roda peão. O rei da brincadeira é José, o rei da confusão é o João. Desligará o rádio do carro. Enfim ,entrará no parque.

FOTO 6

É no parque que a vida acontece. Enquanto as fábricas funcionam regularmente, assim como nossa máquina corporal, o parque, naquele seu silêncio quase absoluto, contará todas as novidades para o fotógrafo. Preciso inventar uma fantasia para destruir meu tédio. Que tal um assassinato? Eu vou até ele, estrangulo-o, volto para a entrada, entro novamente, deparo-me com um corpo, assusto-me. Tento descobrir quem é o homem, quem é o assassino, o motivo para tal acontecimento e o motivo que me levou até ele. Depois tiro uma foto. Quem sabe forjando minhas próprias imagens, eu não possa abandonar a minha máquina de pensar. Click!


caio ricardo bona moreira 6:04 PM


segunda-feira, novembro 27, 2006
Amores Perros


Faz algum tempo que não falo nada de cinema. Resolvi falar porque este filme foi uma descoberta. Enquanto as locadoras e cinemas continuam sendo recheadas por besteiras, ver um filme inteligente sempre agrada. E principalmente um drama inteligente. Se passa na cidade do México assim como poderia ter se passado em qualquer lugar do mundo. Porque o exterior é apenas um lugar geográfico onde as pessoas habitam, nada mais.
Não há uma grande história de amor que será resolvida no final. Pelo contrário. As histórias não resolvem. As tensões iniciais instauram-se e quando pensamos que elas enfim podem ficar pacíficas como as águas depois da tempestade. Não! Logo vemos o mar avolumar-se novamente. Como conseqüência não há personagem principal. A personagem principal é o enredo.
Três histórias. O modo como a vida das pessoas se cruza, e as conseqüências que isso causa (teoria do caos?). Toda ação provoca uma reação (óbvio), e o fio que parece amarrar todos estes deslindes passa pela imagem dos cachorros.
Por que cachorros? Por que a tradução de "perros" para "brutos"? apesar de ser um ser essencialmente doméstico os cachorros ainda são animais. E como tal, o instinto aflora em momentos bem marcados. Como o hotweiller que sobrevive a um tiro, é socorrido pelo assassino de aluguel, e depois de curado mata todos os outros cães do homem que o acolheu e cuidou. A própria arena de briga dos cães é de fato isso. essa nossa necessidade premente de violência, de sangue, de causar dor alheia (mesmo em nível inconsciente).
O jovem apaixonado pela mulher do irmão, e quer fugir com ela, o publicitário infeliz no casamento que larga a esposa para ficar com uma modelo, até que a felicidade rui com o acidente dela, o mercenário que não suporta a saudade da filha, cuja acredita que ele esteja morto.
Talvez seja um filme sobre a busca da felicidade, que não chega sem entrega e sem dor. Talvez nos fale de amores "brutos" mesmo, amores por cães, por pessoas, por dinheiro, por um ideal, por sucesso, por vaidade. É um filme que pode ser sobre tudo isso e mais algumas outras coisas que não devo ter notado. Para mim é um filme autoral. Iñarittu é um dos poucos jovens cineastas que sabem colocar além da sua assinatura seu estilo numa película. É só comparar "21 gramas" e esse "amores" que fica claro a semelhança temática e forma como a narrativa se desenrola e se enrola também. Mas ambos nos fazem pensar e surpreendem.

Luisandro

ps. não consegui postar imagem. encontrei um cartaz muito bom do filme. fazer o quê?


L. M. de Souza 12:07 PM


domingo, novembro 26, 2006
Aos amigos a quem entreguei o coração

"A AMIZADE É UM AMOR QUE NUNCA MORRE" Mário Quintana

Anônimo 2:46 AM


sexta-feira, novembro 24, 2006
O Primeiro Dia

O que o acordou foi o silêncio. Primeiro, o do despertador que não tocou à hora combinada todas as manhãs. Depois, o de outra respiração, que devia ouvir e não ouvia. Estendeu a mão para o quente do outro lado da cama e encontrou o frio. Apalpou e encontrou vazio. Então, sim, despertou completamente.

Um prenúncio de tragédia desceu por ele abaixo, como um arrepio. O que acabara de se lembrar era que não acordara só por acaso ou por acidente: aquele era o primeiro dia, a primeira manhã da sua separação — o primeiro de quantos dias? — em que acordaria sempre sozinho, com metade da cama fria, metade do ar por respirar.

Era Abril, sábado e chovia. Sentado na cama, lembrou-se das instruções que dera a si mesmo para aquela manhã: fazer peito forte à desgraça. Nada é inteiramente bom, mas nada é inteiramente mau - pensou. Posso ler à noite até me apetecer sem me mandarem apagar a luz, posso dormir atravessado na cama, posso-me livrar daquele rol de cobertores com o qual ela me esmagava, fizesse sol, chuva ou frio, porque as mulheres são mais friorentas que eu sei lá, posso usar a casa-de-banho todo o tempo que quiser, posso espalhar as roupas, os jornais e os papéis pelo quarto à vontade e até - oh, suprema liberdade — posso fumar à noite na cama.

Levantou-se para se olhar ao espelho da casa-de-banho. Sorriu à sua própria imagem, ensaiou-a calma, tranquila, confiante. Imaginou mentalmente o texto que poderia redigir sobre si mesmo para a secção de anúncios pessoais do jornal: “Divorciado, 40 anos, bom aspecto, licenciado, rendimento médio-alto, casa própria e espaçosa, desportos, ar livre, terno e com sentido de humor”. Mulheres compatíveis? Deus do céu, dezenas delas! Sou um partidão — concluiu para o espelho.

Calmo, tranquilo e confiante, passou aos outros aposentos da casa para dar uma vista de olhos ao resultado da partilha dos móveis, aliás feita sem grandes problemas, como é próprio de gente civilizada. Por alto, entre o living, o hall, o escritório, a cozinha, o quarto de casal e as duas casas-de-banho, estimou nuns setecentos contos o preço da reposição das coisas em falta. Mais metade dos livros e dos CD's, quase todas as fotografias dos últimos dez anos das suas vidas e algumas outras coisas cujo verdadeiro valor era o vazio que encontrava se olhasse para o lugar onde elas costumavam estar.

“Até agora vou-me aguentando”, considerou ele. Entre perdas e danos e a certeza adquirida de que nada dura para sempre, restavam-lhe várias razões e objectos e sentimentos para olhar em frente sem um sobressalto.

Enquanto fazia, com um prazer insuspeitado, o seu primeiro pequeno-almoço de homem só, passou à fase seguinte do que chamara o “plano de sobrevivência”: desfolhar a agenda de telefones em busca de amigos igualmente sós com quem fazer “programas de homens” ou de antigas namoradas, que se tinham separado ultimamente ou outras que achava acessíveis mas que nunca tivera a coragem e a oportunidade de aproximar. A primeira desilusão foi com os amigos: de A a Z, realizou que só tinha dois amigos sem mulher e, para agravar as coisas, com nenhum deles lhe apetecia sair e entrar numa de “anda daí e mostra-me lá como é o mundo lá fora”. Quanto às mulheres que julgava sortables, sempre eram cinco, mas o resultado foi quase patético. Duas já não moravam naqueles telefones, outra tinha-se casado entretanto, e o marido estava ao lado a ouvir a conversa, o que o deixou completamente idiota a inventar pretextos absurdos para o telefonema. Do número da quarta atendeu uma criancinha e ele desligou e foi só na última da lista que finalmente teve sorte: sim, a Joana morava ali, era ela própria ao telefone. Não, não estava casada nem, pelo que, esforçadamente, percebeu, tinha namorado. Sim, ok, por que não irem jantar logo, para falar do projecto que ele tinha e onde ela poderia caber.

“Ah, a tua mulher não vem? Separados? Não, não sabia. Recente? Pois, essas coisas são tão chatas, mas ainda bem que reages e tens projectos novos e tudo! Ok, às oito e meia vens-me buscar”. Ele teria desligado quase em êxtase, não fosse a frase final dela, à despedida, que o deixou verdadeiramente abalado. “Olha, vais-me achar uma grande diferença. A idade não perdoa a ninguém, não é?”

Enfim, sempre era um date. O primeiro, certamente, de uma longa lista. O que interessa se for um flop — achas que ias encontrar uma mulher super logo ao virar da esquina? É preciso é entrar no circuito, pá, começar a sair, a ser visto, fazer com que as pessoas saibam que estás disponível. O resto vem por arrasto.

Passeou-se pela casa, pensativo, fumando o primeiro cigarro do dia. De repente lembrou-se que ainda não tinha visto o quarto do filho. A cama e a escrivaninha tinham ido, assim como praticamente todos os brinquedos. Sobrava um boneco de peluche, três ou quatro carrinhos semi-partidos, uns legos e um quadro para fazer desenhos, com os respectivos marcadores, pousados, à espera de uma mão de criança. A mesa-de-cabeceira ficara e parecia absurda no meio do quarto, sem a cama nem os outros móveis, com um retrato dele e do filho numa praia do Algarve, sorrindo, abraçados um ao outro. Sem saber porquê, sentou-se no chão encostado à parede, muito devagar, a olhar para a fotografia. Duas grossas lágrimas escorregaram-lhe pela cara abaixo e caíram na madeira do chão, entre as pernas. Foi só então que ele percebeu que estava a chorar.

(foi mantida a grafia original)

Miguel Sousa Tavares nasceu no Porto, Portugal. Abandonou a advocacia pelo jornalismo, até se entregar à escrita literária. Colunista do jornal Público e da revista Máxima, é comentarista da Rádio e Televisão de Portugal (RTP). Jornalista famoso e controvertido, é dono de opiniões fortes, trava polêmicas em vários campos: política, literatura, esportes e outros. Seu primeiro livro lançado no Brasil foi “Equador”, que obteve enorme receptividade entre o público leitor. O autor é filho da grande poeta portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen, falecida em 2004.

Obras:

Equador
Anos Perdidos
Não te Deixarei Morrer, David Crockett
Sul – Viagens
Sahara – A república da areia
O Segredo do Rio
Um Nómada no Oásis
O Dia dos Prodígios


Texto extraído do livro “Não te deixarei morrer, David Crockett”, Editora Nova Fronteira – Rio de Janeiro, 2005, pág. 23.
EU RECOMENDO!!!!

ludelfuego 3:53 PM


terça-feira, novembro 21, 2006



Caio Ricardo Bona Moreira

Provocália, de Fábio Cesar – a “desmontagem”
da língua e do real em favor de um “satori”



Coisa engraçada é essa de ainda ficar fazendo poesia nos dias de hoje. Enquanto a bolsa sobe ou desce, a gripe vem e vai, e os índices de pobreza aumentam ou diminuem, lá vai o poeta, descendo a ladeira. E não é como antes, e não será como depois: das cinzas renascerá o pássaro-poeta-fênix-flora-fauna-bananeira-tropical. E nada será como antes. O que foi nunca será esquecido. Assim, a missão do poeta, se é que podemos potencializar alguma, não está no gesto “esquecer”, simples adesão ao novo, nem no mero parto do “relembrar”, forjando para si um passado enciclopédico, um tanto quanto medíocre. Ah! Estamos chegando lá! O livro Provocália, do Fábio César, sabe muito bem disso. Parece que Pound cutucou sua macumba PrOfÉTICA. Tanto é que um dos mais saborosos poemas do livro assume sem vergonha esse passado “sem vergonha”, não como resgate ou abandono, mas como produtividade: vinde orfeu com sua cítara / e cítolas e guitarras distorcidas / pra lembrar a essa gente esquecida / que ainda há aqui beleza / sob a máscara do grotesco escondida. Esse samba-rock-trágico só pode existir em forma de provocação. Impossível pensar a poesia sem provocá-la, ou provocar com ela “o coro dos contentes”. Lembremos a origem da palavra provocar: do latim provocáre: fazer brotar. E essa provocação, parece-me, só pode nascer de uma experimentação que não seja uma mera progressão da poesia brasileira no século XX, com ênfase na década de 60 e 70, onde o tropicalismo e o concretismo assumiram as contradições da nossa cultura por meio de um LIQUIDIFICADOR CULTURAL. Assim, a poesia do Fábio dialoga com esse passado (provocÁLIA – lembra tropicÁLIA), sem negá-lo ou segui-lo compulsivamente, o que por si já faz com que o seu gesto mereça uma atenção carinhosa por parte dos leitores. Essa experimentação é a sua transgressão e começa pela epígrafe, que é um ótimo começo. Gullar foi o eleito, nada mais significativo, ele que sempre foi um defensor ferrenho da experimentação: “estamos todos nós / cheios de vozes / que o mais das vezes / mal cabem em nossa voz” . Vale lembrar aqui que essa transgressão gera sempre uma angústia, mas quem quer viver sem ela? Já dizia o poeta timboense Lindolf Bell: “Palavras são seda, aço. /Cinza onde faço poemas / me refaço. Lembro-me de Gullar, da sua luta corporal com a palavra para chegar em algum outro lugar, fazer um poema que bastasse a si próprio, como que inventando seu próprio mundo. Ele mesmo mudou de idéia. Era o medo de ser engolido pela palavra. A culpa era daquela hesitação entre o som e o sentido, de que nos fala Valery. Essa impossibilidade de atingir o Neutro, uma espécie de “satori” japonês, fez com que Gullar se voltasse novamente para a realidade. Fábio faz o caminho inverso. Não tem medo. Não destrói a realidade no poema. Mas assume esse “real” entre aspas. Quem é ele senão um efeito de superfície? A realidade não interessa em sua poesia. Ele inventa outra. E ela custa bem barato, talvez um picolé: “É UM REAL - SÓ PAGA É UM REAL”, diz o primeiro poema. Esse real é uma grande miragem, asssim como o “eu”: “alterando alter-egos / eu me faço / e me desfaço / me destruo / e construo / a poesia”. Poema este que me fez lembrar novamente de Lindolf Bell: “Sempre à beira das planícies. /Porque assim nasci /e assim cresci, /e continuo a crescer assim /jamais além de mim, /sempre ao lado de mim”. Como se esse eu fosse sempre também um outro. Essa é uma de suas principais imagens que se reiteram ao longo do livro, como que atirando dardos num "eu" impreciso, já que nossa realidade está em pedaços, e o sujeito em frangalhos. Nesse sentido, a poesia do Fábio assume, ao meu ver, um grande compromisso com a poesia contemporânea: Com os cacos do passado, ele monta um artefato para o futuro, ora nos seus temperos marginais, ora no seu lance concretista. Mas dizer isso ainda é muito pouco, prefiro não trair a sua poesia, filiando-a em alguma tendência. Prefiro pensá-la assim como um jogo (um jeu tropical), que transcende essa idéia de tendências e características já que essa referência a alguma coisa, em sua poesia, pode ser sempre uma grande brincadeira, eis a rarefação da sua linguagem. Movimento que sempre nos leva para um outro lugar, eis o barato de sua poesia. Cuidado para não cair nas suas máscaras, ou ser engolido por elas. O poeta prefere devorar o livro antes que seja devorado: “coisa e tal assim e assado /
disse o livro para mim / antes de ser devorado”. Aquele satori que Gullar não alcança, o Fábio, à maneira de um Leminski curitiboca, consegue: “o dia amanhece / e uma alegre tristeza / já me anoitece”. E aqui já não é o concretismo, nem o tropicalismo que fala mais alto, mas alguma coisa além, o ato mínimo da enunciação, o "satori". Só me resta dizer que ainda estou lendo o livro e me deliciando, tentando em vão adiar o final.

caio ricardo bona moreira 5:20 PM


segunda-feira, novembro 20, 2006
tio carlos

Não quero ser o último a comer-te

Não quero ser o último a comer-te.
Se em tempo não ousei, agora é tarde.
Nem sopra a flama antiga nem beber-te
aplacaria sede que não arde

em minha boca seca de querer-te,
de desejar-te tanto e sem alarde,
fome que não sofria padecer-te
assim pasto de tantos, e eu covarde

a esperar que limpasses toda a gala
que por teu corpo e alma ainda resvala,
e chegasses, intata, renascida,

para travar comigo a luta extrema
que fizesse de toda a nossa vida
um chamejante, universal poema.
Carlos Drummond de Andrade
____________
Quer ouvir o tio Carlos declamando alguns dos seus versos? vai
No Betabossa tem uma tradução minha do e. e. cummings, passa lá pra conferir...
Luisandro

L. M. de Souza 4:21 PM


sexta-feira, novembro 17, 2006

Divido contigo
meio a meio o final
Se palmilhares comigo
Palmo a palmo o começo

ludelfuego 7:55 PM


segunda-feira, novembro 13, 2006
primeira hora fora do paraíso

Imagino como deve ter sido o primeiro instante fora do paraíso: Adão e Eva ali, ambos pelados, perdidos. Sem consciência do sucedido. Ele olha para ela, nua, corpo bem bronzeado, no paraíso é sempre verão, não há marquinhas de biquini, isso vai ser inventado muito depois. Seios firmes, nádegas bem delineadas e com uma relvazinha loura cobrindo toda essa extensão. Ele nem tinha reparado. Ela com um ar de alheamento, de pé, fitava o horizonte descortinando-se em tons de lilás, cruelmente belo como todos os crepúsculos. Que fariam. Suspeitava da hostilidade de outros animais e ficou com medo. "Que faremos, Adão?" Ele ainda imerso na contemplação imaginava por onde começaria a beijá-la e que gosto teria seu ventre, qual seria o gosto do pecado? Maçã? "Ahn, que que você falou?", "Deixa pra lá..." Ele não entendeu e voltou ao que estava fazendo. Uma brisa fria soprou do sul e eles sentiram um arrepio para o qual ainda não tinham nome. Acho que precisamos de abrigo. Ela olhou para o homem e percebeu que estava sem nada sobre as suas vergonhas, ela que nem viria a saber que aquilo ali era uma vergonha, e achou melhor cobrir com alguma coisa. "Precisamos de algo para nos proteger do vento.", "Bom, já que foi você quem mordeu a maçã, talvez encontre um modo de nos abrigar do frio". Deus, que tudo observava resolveu complicar as coisas e fechou o céu, súbito o céu enubla e escurece o fim da tarde tremendo a terra com algumas trovoadas. Será que vem chuva? Ela resolve caminhar sem direção ao que ele sem alternativa resolve seguir. "Para onde vai?", "Não sei, vamos ver onde minhas pernas nos levam?", ele já excitado olha para suas pernas grossas e fica imaginando como seria estar todo enrolado naquelas hastes fortes. "Eva, o que acha de pararmos um pouco?", "Não antes de acharmos um abrigo para passar a noite, e precisamos achar o que comer", sempre tomando a iniciativa, ao que ele amolece em seguida baixando a cabeça já saudoso dos tempos de bonança. Ela avista uma elevação e parte em direção à ela, "Talvez lá encontremos abrigo", "Um cobertor, uma lareira, uma garrafa de vinho e o telefone de um delivery de comida chinesa", "O que que você disse, Adão?", "Nada não", pensou que poderíam ter fósforo pelo menos. Instinto feminino quase sempre infalível: avistam uma abertura na rocha. "Adão pegue alguma coisa para nos defender caso haja alguma criatura na toca", "Fazer o quê", pegando uma lasca de madeira do chão. Entram na toca, ela dá um grito e não escuta resposta, fica preocupada enquanto Adão pensa no que terá para comer no jantar, "Eva o que vamos comer", "Vamos ter que procurar (Deus poderia ter me arrumado um Adão melhorzinho)", "E a maçã?", "Que maçã?", "Sobrou um pedaço..."

Por Luisandro Mendes, visite meu blogue

L. M. de Souza 2:12 PM


sábado, novembro 11, 2006
O amor e todo o resto

Há o amor, que derrete almas e encharca corpos,
Cheios de saliva e líquidos absortos.
Ora corrosivo, uni, abriga, exige, fascina.
Ora piedoso, nos oferece calor, afeto e sabor.

A engrenagem do mundo sugando tudo!
Que engendra maneiras e nos engole na bobeira.
Entre suas rodas dentadas, a rodar e rodar.
Eis o miraculoso plano profano & santo.
Dar amor a todos e lhes ensinar há amar.
http://www.inversoverso.blogspot.com/

T. g 11:07 AM


sexta-feira, novembro 10, 2006
delivery status notification (failure)

e você não se reconhece ali, naqueles sentimentos confusos, contraditórios e doídos. de repente e não mais que de repente não dói mais, não é mais sua essa dor. nem isso sobrou, essa dor... "this is an automatically generated delivery status notification. delivery to the following recipients failed" é o que você pensa em responder aos inúmeros emails que insistem em encher o seu outlook. A sensação que você tem é que o destinatário é outra pessoa que viveu em outra vida e que morreu de um mau súbito de origem quase desconhecida. não é você naquela história narrada ali, não é com você aquelas frustrações, aquela saudade, aquela dependência, aquele "amor". aliás você nem reconhece o remetente... delete... malditos spans!

ludelfuego 7:03 PM


terça-feira, novembro 07, 2006
Caio Ricardo Bona Moreira

O MISTERIOSO CASO DO SEU NEMES



Seu Nemes era o funcionário mais simpático da repartição. Faltavam dois anos para que se aposentasse. Todos já lamentavam a triste despedida que se anunciava. Antes das férias, nos finais de ano, era sempre o bom velhinho que ganhava a medalha “honra ao mérito-destaque do ano”, idealizada por dona Lizete, a funcionária mais antiga, com o objetivo de incentivar o bom desempenho e motivar o grupo – ela nunca perdia aqueles cursos do Sebrae que a empresa patrocinava.

É claro que surgiram boatos quando ela inventou o tal prêmio. Funcionários públicos adoram café, folgas e rumores. Os mais jovens cochichavam que a solteirona inventara o tal prêmio só para seduzir o senhor Nemes, um sessentão “enxuto”, já que era somente ele quem sempre levava as medalhas. Mas ninguém contestava a unanimidade da escolha, nem a veracidade da apuração dos votos contabilizados por Leonora, filha mais velha do chefe. Era porque só ele, no fundo, era o verdadeiro merecedor de tal honraria, então, ninguém discordava abertamente. Os anos iam passando e ninguém esperava mais levar a “bola da vez”.

Quando faltavam seis meses para o seu Nemes receber a aposentadoria, coisas estranhas começaram a acontecer na repartição, e todos sabiam que a culpada era a dona Lizete, que no último amigo secreto, descobriu quem tinha sorteado o nome de seu Nemes. Subornou o Marquinhos, office-boy novato, com um par de havaianas que tinha comprado para o neto e não servira. Comprou o acaso e guardou o papelzinho no bolso.

Desde que conhecera o seu Nemes, ficara sabendo que ele gostava muito de ler. Nemes vivia comprando aqueles livros de caubói (Tex, é esse o nome, ou Ted? Não importa); era assinante da revista Seleções. Era hora de conquistá-lo. A dona Lizete havia lido uma resenha escrita no Diário Catarinense. Pois bem, o cara citava um escritor chamado Herman Melville. Dona Lizete, que era dada à culinária e cruzadinha e não à literatura, anotou o nome “Bartleby” numa cadernetinha que sempre carregava na bolsa. Ela não tinha entendido nada daquela resenha, mas resolveu seguir a intuição. Gostara do texto e mais ainda do nome: “Engraçado, a gente não entende, mas gosta, esses caras do jornal sabem dizer bonito, né?!”, confessou para Inês, sua cabeleireira e confidente. Comprou o Bartleby para o seu amigo secreto.

Como de costume, o seu Nemes agradeceu o presente, abraçou forte a velhinha, que quase desmaiou de emoção: “O que a gente não faz pra agradar o ser amado?”. Muito prestativo, o Nemes se ofereceu para levar a dona Lizete pra casa. Chovia muito naquele dia, como poderíamos esquecer? O que se passou na casa da nossa colega de trabalho nunca nos foi revelado. Só sabemos que ele começou a se comportar de uma maneira muito estranha. Talvez você entenda melhor do que eu.

O seu Nemes nunca mais foi o mesmo. A velhinha, que no dia seguinte chegou antes dele, sorria como uma cotia (cotia sorri?). E ela foi a primeira que estranhou o comportamento do homem. Ele resmungava e ela chorava pelos cantos do escritório. Teria sido estuprado pela velhinha? Teria experimentado os seus dotes culinários? Teria ficado traumatizado ao ver a dona Lizete despida de qualquer aparato ou pudores? Preferia não ter nascido. Quem? Ela ou ele? Talvez os dois, a partir daquela semana. Quando solicitavam algum serviço de banco, ou mesmo o preenchimento de algumas fichinhas de nada, o seu Nemes só dizia: Eu prefiro não!

O que estava acontecendo com o bom velhinho? Seria melhor se ele tivesse dito: “Ai, que preguiça!”, como um bom ser macunaímico e malandro que todos somos, frutos desse Brasil imenso de Andrades e Almeidas; ou então: “Vai para aquele lugar!”. Todos entenderíamos e forjaríamos as nossas hipóteses: “Ah, a idade tem dessas coisas!”, ou mesmo: “a dona Lizete depenou o nosso bom e velho Nemes!”. Mas não: “Eu prefiro não!”. E a frase foi para nós uma facada no coração, um soco na boca do estômago. Foi que de tantos “eu prefiro não” o cara acabou sendo demitido por justa causa. Comenta-se que nunca mais saiu de casa. E o pior, depois que terminou de ler o Melville, não quis ler mais nada. No último aniversário, três meses antes de morrer, ganhou do ex-chefe a antologia completa do Olavo Bilac, presente de consideração por tantos anos de dedicação. Olhou triste para todos e lá veio: “eu prefiro não!”. Devolveu o presente. A Leonora, indignada, deu o troco, pegou de volta a caixa com aquelas preciosidades parnasianas e nunca mais voltou a olhar para o seu Nemes. Seu Nemes nunca mais. Ele não quis fazer mais nada.
O único que entendeu tudo foi o Marquinhos, que adorava o Melville. Ele costumava dizer que o seu Nemes sofrera de um caso raro de distúrbio literário, uma doença ainda não diagnosticada: “personagium patologicus”. Ei, avante: ‘eu prefiro não!”. E bateu as botas nosso Nemes Bartleby.

caio ricardo bona moreira 8:26 AM


segunda-feira, novembro 06, 2006
Resenha: Hercule Poirot no País da Gramática

INSPETOR HERCULE POIROT NO PAÍS DA GRAMÁTICA
(OU DE LINGÜISTA E LOUCO TODO MUNDO TEM UM POUCO)

Se a famosa frase do Chacrinha tivesse sido dita por Chomsky ou Rodolfo Ilari, certamente o bordão teria virado filosofia. "Comunicar e trumbicar é só começar" é um livro pelo menos instigante. Não porque fale de linguagem de língua de gramática e dessas coisas todas que os lingüistas, poetas, críticos e filólogos gostam de falar durante um cafezinho, um olhar de esguela na bunda da colega gostosa. Não. falar destas coisas qualquer livro faz. qualquer gramática faz.

Se o que nos define enquanto humanos é o instinto da linguagem, no dizer de Steven Pinker, o que nos define ainda mais como seres são as troças, chistes, pândegas e jogos que fazemos com as palavras, e a nossa exuberante capacidade de criar jogos com as palavras.

Depois do delicioso "Emília no País da Gramática" fica difícil escrever algo acessível sobre a língua portuguesa sem fazer algum tipo de comparação. Monteiro Lobato sacou o espírito da língua, quando o que de mais científico se havia sobre língua eram as gramáticas. E olha que de científica elas tem muito pouca coisa. O País da Gramática do Inspetor Hercule Poirot é montado com pecinhas de Lego. Sabe aquelas pecinhas de encaixar? Pois é, a língua é assim também. E o que sai da montagem das pecinhas, frases, períodos compostos por coordenação subordinação, parágrafos, poesias, textos quaisquer nada mais são do que o resultado da concatenação destas peças.

O ilustre lingüista, e também jurista, Pepe Esborracha, deslinda os meandros de uma língua que pode ser acessível para todos. Com ela namoramos, vendemos, trabalhamos, pensamos e alhures. Se sabemos reconhecer com incrível capacidade quando estão falando algo estranho, quando o sotaque é diferente, quando a palavra é diferente, quando o português é de Portugal, ou caipira, decerto havemos de possuir algum tipo de "intuição" sobre a língua. E é neste aspecto que o trabalho ganha vulto. Dizer para nós incultos e leigos no assunto que tal "intuição" sobre a língua é essa. Sem academicismos ou uso do jargão científico que tanto afasta o leitor comum interessado nos assuntos da língua, a descrição da nossa capacidade nata para reconhecer o que são as frases bem construídas, um advérbio mal colocado, um complemento verbal sem preposição, a posição dos itens interrogativos, quem, o quê, quando, onde, e por aí afora.

O livro não toca na língua escrita. Para quem não é do ramo, a língua escrita é artificial, precisa-se aprendê-la na escola. Para falar sua língua materna ninguém vai à escola. E a ocupação deste trabalho é mostrar como podemos também pensar seriamente a língua falada, mostrando como as pesquisas na psicologia, filosofia, inteligência artificial, lógica, ciências cognitivas em geral, também podem e estão auxiliando no estudo das línguas naturais. E o que estes estudos podem mostrar sobre a nossa capacidade de falar qualquer língua.

Que o leitor não tema um livro sobre língua, porque não apenas professores das línguas, acadêmicos de letras, se interessem pelo livro. O livro destina-se a um público bem mais amplo: jornalistas, advogados, sociólogos, antropólogos, filósofos, publicitários, estudantes. Um livro para ser lido nas escolas. Comentado nas mesas dos bares. Porque já estava na hora de surgir mais um livro na luta contra o mito da dificuldade de se estudar a língua, e da ciência da linguagem enfim adentrar nos bancos escolares.

Luisandro. Visite também meu blogue.

L. M. de Souza 10:44 AM


sexta-feira, novembro 03, 2006

O desenho da tua boca
Cria água em minha boca
Me deixa toda arrepiada
Feito uma gata vira-lata
Vagabunda e tão tarada
Doida pra encontrar seu gato
E desse felino lamber
Do focinho até o rabo

ludelfuego 9:47 AM



Literatura, lixeratura, Música, Cinema, Teatro e outros bordéis.

Adriana Scarpin- domingo
Luisandro - segunda-feira
Caio Ricardo- terça-feira
Juliana - quinta-feira
Lucila - sexta-feira
Flora - sábado
orig.obsc.; talvez relacionado com a raiz de cambada, com alt. de sufixo para -al 'grande quantidade' e depois grafado com -u, seguindo a pronúncia do -l final, predominante no Brasil, *os cambal > *o scambal > o escambau, ou ainda da raiz de 1cambo/1camba, por processo semelhante; levantou-se ainda a possibilidade de o voc. originar-se de *os cambau > *'s cambau > *scambau > escambau, hipótese que se poderia admitir do ponto de vista da fonética sintática, mas que seria de difícil sustentação do ponto de vista semântico.pode significar ao mesmo tempo: algo que não é verdade, grande quantidade, uma coisa incrível ou a expressão "e muito mais" ... e o escambau
(...)
ADRIANA SCARPIN

Eu existo. Ou não. Visite seu blogue.

CAIO RICARDO

Eu estou poemando, logo existo, ou pelo menos insisto. Essa é uma das minhas meditações, uma espécie de mantra semântico, esse é meu canto assintático. . Visite seu blogue.

FÁBIO CEZAR

Carioca, graduado em Letras, é poeta, músico e professor. Participou como guitarrista e compositor em bandas de rock na cena underground. Escreve em colaboração a revistas, jornais e sites culturais. Editou o zine literário Falárica em edições eletrônica e panfletária, através do qual divulgou sua poesia e de outros poetas e prosadores. Mantém o blog Tediário Poetético .
, laboratório poético onde expõe suas "hipatéticas experiências eletro-estéticas". É autor de Polivocalia (e-book, ed. do autor), além de outros poemas, artigos, ensaios, crônicas e uma peça de teatro inéditos. Visite seu blogue ou site.

FLORA HANNAH

Flora Hannah ou Graciele Tules, a Graci?! Você é quem sabe. Flora é a criação, Graci é a criatura, além de uma pretensiosa aspirante de professora, fotografa e poetisa. Ela nasceu em 1981, em Joinville, e passou a infância ajudando seu pai a arrumar o encanamento entupido. Hoje passa os dias a contar e assassinar moscas. Visite seu blogue

JU REPCHUK

Olho o tempo passando pela janela do meu quarto. Tenho teorias malucas. Ando lendo revistas em excesso. Ando rindo em excesso. Ando grávida. Ando professora de inglês. Ando a pé. Ando mascando o chiclete. Paranaense cosmopolitana. Otimista com as pessoas. Comigo mesma. Aprendendo o manuseio correto das palavras. Conhecendo novas bandas de rock. Apaixoanda por lecionar, por cantar, por namorar... Prefiro o PC à TV. Adepta do widescreen e linguagem original no vídeo. Aprendendo Francês. Tendo uma queda no Alemão. Ainda tenho muito que aprender do Inglês. Da vida.

LUCILA

Pinto (ops), bordo, chuleio, crocheteio e tricoteio, não dirijo e nem ando de bicicleta, tenho talento pra finanças e pro desenho, encanto mais do que canto e a única coisa que quero aprender a tocar é a alma das pessoas. Sobre artes não sei muito, menos ainda da arte de amar. Leio muito menos do que gostaria e muito mais do que as pessoas que convivo. O sol em aquário faz com que a tecnologia e o novo guiem minha vida, a queda que tenho pelo belo, pelo sofisticado e pelo erótico, libra explica. Amo os animais até mesmo aqueles que partiram meu coração. Tenho um sorriso farto e fácil, boca bonita, lágrimas escassas, um bom humor praticamente inabalável e dificuldade de chorar apesar das dores. Me apaixono todos os dias, quase sempre pela pessoa errada, amar amei pouco e fui amada por muitos, não sou uma pessoa de fácil convívio apesar da primeira impressão. Não ligo para presentes, mas sou movida a elogios. Gentilezas e educação me conquistam instantaneamente. Prefiro lambidas à mordidas, mas não me provoque... Visite seu blogue.

LUISANDRO

Catarinense de nascimento, Paranaense de coração. Professor, pô(eta!), apaixonado por Dalton Trevisan, Fernando Pessoas, Woddy Allen e é lingüista também só pra variar. Desvive em Florianópolis (infelizmente não na ilha). Só não fugiu com o circo porque a única coisa que saberia fazer é alimentar os animais. Quer publicar um livro e fazer um filho (um dia desses de chuva, quem sabe?). Visite seu blogue.
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