OESCAMBAL
terça-feira, agosto 29, 2006
Caio Ricardo Bona Moreira

FELLINI, OITO E MEIA, SARAVÁ EM COPACABANA



Conta a lenda que Fellini, antes de filmar “Otto e Mezzo”, estava, assim como Guido, vivendo uma tremenda crise existencial que afetou significativamente seu processo criativo. A solução para esse problema não foi encontrada apenas na tentativa de representar no filme o drama da criação. O que poucos sabem é que Fellini encontrou a solução para seu drama aqui no Brasil. Quem me contou a história foi meu tio Marcelo.

1961, oito e meia da manhã, Copacabana. Meu tio caminhava pela praia quando encontrou Fellini agachado na areia, preparando o que parecia ser uma oferenda a orixás. Tio Marcelo reconheceria Fellini a quilômetros de distância. Fellini, arriscando um portunhol meio xucro, sorriu ao encontrar um admirador de seus filmes em plena manhã carioca. Confessou que vivia um drama artístico e que procurou uma mãe de santo brasileira que morava na Itália. Mãe Manuela alertou que o “branco criativo” só findaria com uma viagem secreta ao Brasil. No Rio de Janeiro, Fellini deveria procurar um terreiro. Lá, seria orientado sobre o ritual que deveria realizar oito e meia da manhã, em Copacabana.

Antes de partir, Fellini reencontrou meu tio em um restaurante. Tinham combinado de almoçarem juntos. O italiano estava animadíssimo e muito satisfeito com o resultado da “macumba para turistas”. Tão satisfeito que chegou a escrever, em apenas um dia, o roteiro de um filme, que pretendia rodar no Brasil.

“Divina Comédia Tropical” seria uma adaptação do famoso texto de Dante, lido á luz do calor dos trópicos. A história começaria em Rimini, que figuraria o inferno criativo de um escritor, onde o fogo queima a alma, onde o frio congela a imaginação. Em busca de uma solução, Dalton, o personagem principal, viajaria pelo Atlântico, o purgatório, até chegar ao paraíso-tropical-brasileiro, onde várias seqüências seriam rodadas com suculentas mulatas, gordas baianas de grandes tetas, e muito carnaval. Felliniano, não? A busca não de Beatriz, mas a de uma boa atriz, a razão da criação, onde tudo faz sentido. Conta a história que o filme fantasma nunca saiu do papel, o que para o meu tio Marcelo nunca fez sentido.

caio ricardo bona moreira 1:55 PM


segunda-feira, agosto 28, 2006
on gangsters



O gângster é aquele cara que transita entre a criminalidade e a malandragem, sempre com elegância. Sempre bem-vestidos, ternos de bom corte, gravatas nunca destoando do conjunto, sapatos reluzentes, brilhantina no cabelo ou chapéu. Há uma grande diferença entre o gângster e o bandido comum: estilo.
Vida Bandida: bandidos modernos, com estilo. Os Intocáveis, a mesma elegância e finesse. O gangster é sorrateiro, se infiltra na sociedade, come nos melhores restaurantes, é respeitado pela comunidade e os capangas beijam a mão do chefe.
A máfia, todo tipo de máfia é familiar ou étnica. É um desrespeito chamar de máfia uma quadrilha qualquer de larápios que se reunem para fazer uma falcatrua qualquer (vide sanguessugas). A máfia sempre possui a figura de uma mãe protetora, ou um avô sisudo, que com seus charutos, bengala e ceroulas comanda, manda e mata quem quer que seja. Mas nunca por prazer, sempre para intimidar, ou demonstrar para todos quem manda. O poderoso chefão. Para quê alguém mais elegante do que Marlon Brando, Andi Garcia, De Niro. (O sangue latino de pirata e corsário? – só não me diga que os vikings eram piratas também que a brincadeira perde a graça).
Tarantino. Os bandidos de Tarantino citam a bíblia, Pulp Fiction, os bandidos de Tarantino falam de música no café da manhã. A interpretação que o personagem de Tarantino faz para “like a virgin”, para mim pelo menos, é antológica, e ainda o debate sobre dar ou não gorjetas para a garçonete (reservoir dogs, bem mais charmoso que a tradução “cães de aluguel”).
Tiros na Broadway. A incursão de Allen pelo mundo da máfia. O autor (Kusack) se vê obrigado a dar o papel principal de sua peça para a amante do mafioso que patrocina o espetáculo. A atriz é horrível (no seu papel dentro da peça). Apesar da caricaturização dos atores, problemáticos, esquizofrênicos, como o cara que não pára de comer. Como o chefão é ciumento, manda junto com a mocinha um capanga para os ensaios. O capanga começa a palpitar no texto. Até que o transforma de todo. Sua obsessão pela perfeição chega ao ponto de matar a atriz principal porque ela estava estragando seu texto.
Um assalto, um assassinato. São espetáculos. Trabalho. Missão. Como se os atores desse jogo estivessem a serviço de um bem maior (de fato estão) - Onze homens e um segredo. Para que caras mais elegantes que Brad Pitt ou o cara do Plantão médico (juro que esqueci o nome dele). O tiroteio, a perseguição, não é envolto, escondido entre explosões, helicópteros ou parafernálias. São tiros de colt, .38, smith-welsons, metralhadoras. O gângster tem sentimento. Um gângster não trai a família, protege o irmão com a vida. E se faz besteira, leva um tapa na cara da mãe, abaixa a cabeça e pede desculpas. Ganha uma aposta na sinuca e traz pão e leite para casa, e pede benção para a mãe.
Luisandro mudou de idéia e vai escrever agora nas segundas um texto de sexta.

L. M. de Souza 1:51 PM


domingo, agosto 27, 2006
PPP (pierpaolopasolista)

Vi um filme que ainda não havia passado por nenhum dos meus sentidos, do meu amado cineasta e literato Pier Paolo Pasolini (vira e mexe tenho que voltar para os meus italianos ou a coisa não anda): Gaviões e Passarinhos / Uccellacci e Uccellini, um de seus filmes mais acessíveis (aqui não há nenhum clérigo pervertido ou gente comendo cocô), podendo ser chamado até de popular, além de ser uma comédia incontestável, já que há a presença do astro Totó como protagonista somado a um desenlace que não deixa de ser um deleite para os céticos sociais de plantão.
Totó era aquele cômico genial que só ao olhar para sua face você riria, aliás, os italianos em geral nos passam essa alegria, mesmo no drama eles não deixam a sua comicidade contagiante de lado. Totó talvez seja o maior deles, embora aristocrata (se não me engano conde), foi o mais popular dos astros italianos durante décadas, ganhando a simpatia do povo interpretando muitas vezes homens simples como eles.
O filme já começa com créditos iniciais deliciosos em forma de canção (a trilha sonora é de Morricone – O Grande) e tudo gira em torno de dois simples trabalhadores (pai e filho) que seguem viagem junto a um corvo falante e marxista, cansados do blábláblá do corvo que não serve para muita coisa na prática, eles o comem.Não deixa de ser um ótimo exemplo para vocês-sabem-quem fazerem com aqueles outros que vocês sabem também, não? De lavar a alma.
Pasolini, Pasolini, como te amo! Não bastasse ser um dos melhores cineastas do cinema italiano, também foi um dos mais importantes escritores do século na Itália. O irônico é que ele mesmo era considerado um intelectual de esquerda, era sim um comunista, mas em toda sua paradoxalidade era um comunista católico, seguidor do revolucionário Jesus, de quem não sou menos fã.
Só que Pasolini sofria de um triste mal, aquele do intelectual egocêntrico que luta contra a hipocrisia em favor dos marginalizados até conseguir o que quer, quando finalmente conseguia reclamava que tinha virado moda (uma coisa meio Kerouac, não?). Foi exatamente isso que aconteceu com sua conhecida exaltação ao falo, quando a eretomania virou pop e ele finalmente conseguiu acabar com essa hipocrisia em determinados círculos, não gostou e achou de imenso mau gosto (!?!). Talvez se ainda vivesse (ano passado fez 30 anos que foi assassinado pelo governo italiano, mas oficialmente foi um dos seus garotinhos que o fez), ficaria feliz pelo fato de seu Saló até hoje chocar os incautos e ser considerado por muitos o filme mais desconfortável da história. Não por mim, pois a sua boa e velha escatologia cheia de perversões me divertem deveras com sua política cáustica.
Um Pasolini na nossa atual fase política não seria nada mal, hein?

Mais sobre Pasolini, Sade e Saló em meu antigo blog: Micrurus Corallinus

Nota: Alguma coisa me diz que Fellini tinha certas restrições ao cinema de Pasolini. Nunca li nada a respeito, eles até já trabalharam juntos e talvez por isso mesmo sou encanada daquele ajudante na roteirização do filme de Guido Anselmi em 8 ½ seja uma bela alfinetada em Pasolini, que exerceu em Noites de Cabíria a mesma função. Fellini execrava cinema político cheio de frufrus intelectuais, em 8 ½ ele fez Guido ficar tão de saco cheio do blábláblá sem fim do tal roteirista que imagina-o sendo enforcado na sala de audição. Mesmo gostando de todo tipo de discurso cinematográfico, é uma das melhores cenas de 8 ½ (um dos meus 5 filmes preferidos). Ave Fellini e Pasolini!

Anônimo 11:37 AM


sexta-feira, agosto 25, 2006
Salagadula mencicabula bibidi bobidi bu...

Sou uma Fada-Madrinha.
Por isso devo escolher um presente para Bia, em seu aniversário de seis anos.
Pensei muitas coisas:
- uma caixinha de música, para ela guardar as notas
- um vento que levanta saia
- peixes de água doce (+ um lago pra guardar)
- peixes de água salgada (+ um oceano para guardar)
- gaiola sem passarinho (+ todos os passarinhos no céu)
- quintal com pé descalço
- pedras preciosas (disfarçadas de cacos de vidro)
- um broche de joaninha que voa sozinho
Pensei, pensei, mas nada parecia dar tamanho.
Foi então que eu achei uma foto antiga. E escolhi.
O presente que te dou, Bia, é um amor.
Amor é sempre artigo de luxo, mas como este (eu garanto) não tem igual.
É um amor, assim, resistente feito ele só, que não acaba nunca!
Já passou por brigas, ciúmes, (in)diferenças, rejeições.
Já provou leite do próprio peito,
Já esquentou rinossoro e hipoglós no meio das coxas, pés com meias e mãos com luvas entre os seios.
Já sobreviveu à UTI, vacinas, febre de 40 graus, amidalites, caxumba, noites insones e muita manha.
Já enfrentou fantasmas, escuro, a Cuca, o bicho-papão.
Já viu morte de perto.
Já renasceu muitas vezes.
Um amor que já chorou de medo, e pra você ver, meu docinho, este amor já até se separou e continua inseparável.
Estou falando de um amor king-size, que às vezes dorme amontoado na mesma cama.
E sonha os mesmos sonhos.
E todos os sonhos, Bia, é sempre você.
Para este amor que te dou, minha filha, fiz uma poesia.
É assim:
Era uma vez uma menina só, que cresceu depressa demais mas nunca deixou de ser menina.
E depois de muitos anos a menina só, veja só, ganhou um Anjo!
E nunca mais ela foi só.
Só menina.

ludelfuego 3:19 AM


terça-feira, agosto 22, 2006
Caio Ricardo Bona Moreira

UMA GARRAFA DE UÍSQUE E 25 COMPRIMIDOS DE DORMIR




A placa indicava: “Entre sem bater”. Foi num sábado. Como poderia esquecer? Tão logo entrei no boteco, percebi que aquilo só podia ser um sonho. Não é em qualquer boteco que encontro Vinícius, Adoniran, Oswald e o João Antônio discutindo música e literatura como quem discute futebol numa sexta-feira depois de um dia estafante de trabalho. João Antônio pediu licença e foi jogar sinuca com um sujeito estranho chamado Bacanaço.

Só posso estar morto. Perguntei pro Oswald se ele achava que eu tinha pedido a conta para o garçom. Ele deu risada e disse que eu nem tinha começado a beber, e que eu também não estava com cara de finado. Claro, como não percebi. Eu ainda ouvia a minha mulher roncar ao meu lado, enquanto o Adoniran cantava o Samba do Arnesto. Eu estava sonhando.

Confessei para o sírio de Jequié, que também marcava presença naquela “boemia onírica”, que trocaria toda a realidade para continuar sonhando. “Eu também”. Contou-me que infelizmente sempre acordava quando a conversa ficava boa. E quando dormia novamente, o bar era sempre outro e os poetas também. Por isso estava estudando um manual hindu para aprender a controlar os sonhos. Falou que eu devia me “enturmar” com o pessoal, pois o poetinha já ia começar a declamar “O dia da criação”.

Foi quando Marisa me acordou. Queria que eu fosse até a cozinha buscar um copo com água. Tentando esconder a minha irritação, fui até a sala, tomei uma garrafa de uísque, e misturei 25 comprimidos de dormir. Adormeci no sofá. Fui me aproximando do boteco. Já era um outro boteco. Senti meu peito apertado. Meu coração batia forte. Marisa me chacoalhava e eu não acordava. O boteco estava quase deserto e, sem sucesso, eu me perguntava: “Cadê o pessoal?” A voz de Marisa já estava longe quando ouvi seu grito de pavor. Chamou os vizinhos. Resolvi ficar. Puxei a cadeira, chamei o garçom e pedi a conta.

caio ricardo bona moreira 1:17 PM


segunda-feira, agosto 21, 2006
informes

pausa para informes
comunidade d' oescambal no orkut:
vai lá
link para o video que o pcc mandou para a globo, e que não foi passado aqui no sul (eu não vi):
video pcc
os caras são quentes, não é à toa que chamam isso de crime organizado...

L. M. de Souza 4:09 PM


RITUAL

Por Luana Vignon

Pé ante pé
desceu as escadas sorrateiramente
(subiu-lhe uma fagulha de chão pelas pernas, cóccix , garganta, córtex)
cautelosamente desvestiu as meias
desaconselhou espelhos

Pé ante pé.
vagarosamente desvirou a pele
e arrancou as unhas
uma por uma

Pé ante pé
em carne viva
caminhou pelo sótão
e alimentou seus ratos

(Janeiro / 2006)


Como ando sem poder arrumar até a meia arrastão durante a jogatina, resolvi fazer algo melhor do que escrever minhas bobagens habituais e divulgar o trabalho de quem escreve de verdade, no caso a grande poeta Luana Vignon, que residiu uns tempos comigo na lendária casa da Aminthas de Barros (Antro! Antro!) quando morávamos em Londrina.
Mademoiselle Vignon continua poetando mais e melhor do que nunca. Para conferir mais do trabalho dessa diva da poesia atual vide os blogs Entumecido e Stúltifera Nave , além de suas colaborações em outros puteiros da blogosfera.

Anônimo 9:18 AM


sábado, agosto 19, 2006
para woody allen



As histórias das pessoas, homens que amam mulheres, como todas as histórias têm dessas histórias de amor (igual a tudo na vida).
O cinema mistura com a vida. Ah Mia Farrow, como fui feliz entrando contigo na tela do cinema preto-e-branco, vendo musicais na Broadway e chorando com a perda da ilusão. Tuas lágrimas molharam minha alma.
Ah, Woody, como entende a alma humana, essa nossa incapacidade de lidar com os próprios sentimentos, esse egoísmo desabrido. Como é bom desejar a melhor amiga da namorada, a cunhada, só por diversão. Como é bom ser narigudo, inteligente, sarcástico e conquistador;
Ouvir Cole Porter, passear pela Soho, pelas artérias inquietas de Manhattan; falar com MacLuhan na fila do cinema; sempre uma surpresa no final. Como uma explosão de fogos de artifício num beijo apaixonado (o escorpião de Jade).
Ser um italiano, bruto e safado, judeu, ateu, o escambau, francês, culto e saber por um acaso quem foi Ingmar Bergman ou Billie Holliday.
Beijei contigo a Helen Hunt, a Diane West, e uma prostituta negra dormiu também na minha cama. Fui receber prêmio literário, fui comediante engraçado; editor fracassado; produtor hipocondríaco; escritor que tinha um caso com a cunhada; jornalista; burocrata ninfomaníaco.
Conheci a tua Nova York, e os teus cafés (não aquela do de Niro, cruel e mafiosa); conheci minhas angústias; hoje sou um personagem teu que fugiu de um dos teus filmes, como faço para voltar?
_________________
ps. ainda não vi Manhattan, mas acho lindo esse cartaz.
Luisandro escreve aqui aos sábados algo de sexta até terceira ordem (porque é teimoso)

L. M. de Souza 12:10 PM


sexta-feira, agosto 18, 2006
Fragmentos

Eu podia falar de como fui parar lá por acaso. Podia dizer do quanto aquele lugar me fez ficar viajando nos desejos das pessoas ali presentes, nos códigos de conduta, na ânsia meio histérica de reduzir a mera diversão o labirinto perigoso que se abre sempre nos nossos encontros.
Talvez eu pudesse falar também de sintonia, de como você soube num primeiro olhar que se eu quisesse algo da noite seriam as minhas mãos, os meus dedos, a minha temperatura que me conduziriam (e de como você concordou num sorriso). Ou contar do inusitado jogo de olhares, gato-e-rato, o atrito dos corpos, a quase-luxúria pública. Todos em volta, a nudez e gemidos imaginados por nós e nós por horas entretidos na sinuca das sondagens.
Poderia mesmo narrar a parte divertida, minhas convicções indo por terra quando de um puxão para o beijo e o seu pau quase saindo da calça foi tudo muito rápido e eu nem pensei em nada. Dizer que daí em diante tudo ficou turvo e passou a existir ali só a minha boca, só o contato da carne pulsante e nada além do cinza dos seus olhos. Olhos boquiabertos.
E eu que estava indo embora, e eu que tanto arquitetei racionalizações me vi abrindo num único movimento o ziper e as possibilidades.
É, eu podia desfiar aqui cada detalhe do desfecho inusitado da estória. Ou ponderar que não fossem as pernas ainda bambas e a marca na curva do pescoço me desnorteando ali na escada, eu mesma custaria a acreditar que foi como foi.
Eu podia, sim. Mas hoje ainda é ... ah, o hoje... o frio congelou as memórias e prefiro deixar aqui só entrelinhas e desejo de ...

***
Ele veio e eu pude reparar direito, tão castanho, tão alto, que mesmo de salto ainda bato no peito dele.
Quando está frio ele fica com as mãos meio roxas e por qualquer coisa avermelha, seus olhos são azul-outro-mundo e me dizem, às vezes, que não enxergam direito, mas fitam todo movimento que faço, por isso sei que esses olhos gostam de mim.
Ele veio.
E todas as coisas saíram da sua ordem natural, não sei mais as coisas que sabia.
Esqueci o que li nos livros, lugares por onde andei, nem sei se estive em algum lugar antes.
Hoje só sei ficar com ele, com a ponta dos dedos tateando suas formas, suas marcas, tentando decorar cada milímetro da pele, fazendo carinhos suspensos, olhando... olhando... como se guardando um tesouro.
***

Tarde cinza, lembranças daqueles olhos, meio santos, meio bandidos, profanos, amor clandestino, estranho, amor, a presença dele sempre comigo e os pensamentos, tenho pensado coisas, a voz além do oceano, saudade ele diz, sorrio, ele sabe, cumplicidade de uma vida toda, duas vidas, não sei, um trecho de Caio e a dor ali à espreita, de tempos em tempos choque, de tempos em tempos faíscas, de tempos em tempos desejo, de tempos em tempos choro, madrugada insone, espera, é, parece que o espero (ainda e sempre) e a certeza que chega através da respiração-que-vem-de-longe-que-vem-abafada-que-vem-ofegante. Bobagens...


ludelfuego 11:29 AM


terça-feira, agosto 15, 2006

Caio Ricardo Bona Moreira

ENTREVISTA COM O VAMPIRO



Curitiba. Uma madrugada como outra qualquer. Alto da Glória. O Vampiro sai do castelo. Dobra a esquina. Atravessa a rua. Esconde-se na capa preta. Ouve passos. Sabe que está sendo seguido.

Encontra o Café Imperial aberto. Pede um martelinho e dois pães de queijo. Uma jovem entra. Aproxima-se. Ah, perdição de velho! Ela, quase sem esperança, pede para entrevistar o vampiro, para um trabalho do colégio. Ele sorri e aceita. Foi Deus que mandou você. Ela fica surpresa. A rolinha quase bate palmas. Senta. Aperta as pernas. “Veja só, estou tremendo!” Ele oferece pão de queijo.

“O café está quentinho?”. Ele fala o que ela quiser. Uma só condição. Ele também quer entrevistar. Ela acata. Os dois vão tirando as cadernetas dos bolsos. Ela empresta o lápis. “O peitinho é mimosa partida ao meio”. Fala tudo o anjinho. Uma vez no banheiro, matando aula com um coleguinha. Uma outra, um selinho no professor de Educação Física, no vestiário da cancha, enquanto as meninas batiam bola. Outra, um beijo de língua na melhor amiga, em casa, enquanto faziam a lição de casa. Quando não tinha mais o que contar, inventava. Ele anotava.

Ela levanta e vai pedir mais um café para ele. Quando volta, cadê o vampiro? Velho maldito, nem devolveu o lápis. Ele atravessa a rua e dobra a esquina. Ainda sobra tempo para escrever: “Essa menina é minha perdição! O lombinho é espuma de leite! E mansinha de rédea!”. Chega no castelo, corre para a máquina e começa a escrever: “Curitiba. Uma madrugada como outra qualquer. Alto da Glória. O Vampiro sai do castelo...”.

caio ricardo bona moreira 2:18 PM


segunda-feira, agosto 14, 2006
LIMÍTROFE

Por Adriana Scarpin
FADE-IN:

SEQUÊNCIA 1 – PLANO DE DETALHE EM ÓCULOS ESCUROS (silêncio)

ZOOM-OUT (lento)

INTERIOR - AMBIENTE POUCO ILUMINADO - FESTA

Começa-se a ouvir o som de uma música de Iggy Pop e pode-se enxergar a personagem Adriana dançando freneticamente.

PLANO GERAL COM HALO DESFOCADO

ZOOM-IN (frenético)

PLANO PRÓXIMO

Vácuo sonoro, a personagem Adriana fica paralisada em meio aos extras. Logo depois começa a se mover e o som da música volta distorcido.

TRAVELLING (num percurso de poucos metros acompanhando Adriana)

FADE-OUT


FADE-IN:

SEQUÊNCIA 2 - PLANO DE DETALHE EM ÓCULOS ESCUROS

Música de Iggy Pop ainda tocando longinquamente

EXTERNA - RUA – CALÇADA - NOITE

Adriana sentada na calçada de coturno e canequinha. Óculos escuros evidentemente escondendo lágrimas.

ZOOM-OUT (lento)

ÂNGULO ALTO

PLANO MÉDIO

Visualizado os contornos de uma perna.

VOZ DE ALGUÉM (Off)
- Muito álcool ou pouco pó?

ÂNGULO ALTO

ADRIANA (triste)
- Puta, isso é suco e não cheirei. É coisa daquela doença maldita.

PLANO PRÓXIMO

ADRIANA (repentinamente descontrolada)
- SAI DAQUI!!!

FADE-OUT


FADE-IN:

SEQÜÊNCIA 3 – PLANO DE DETALHE EM ÓCULOS ESCUROS

Som da música de Iggy Pop já no fim sendo ouvida ensurdecedoramente.

ZOOM-OUT (frenético)

INTERIOR - AMBIENTE POUCO ILUMINADO - FESTA

PLANO AMERICANO

CHICOTE

A personagem Adriana rindo, gritando e dançando freneticamente.

FADE-OUT

Sobem os créditos ao som de Frank Sinatra

FIM


* A música não é extensa, mas a gama de sentimentos é.

Nota: Isso NÃO é um roteiro de curta. Cruzes. É egocentrismo puro escrito em 10 minutos. No final das contas é na sala de edição que tudo acontece mesmo.

Anônimo 2:19 AM


sábado, agosto 12, 2006
escambalizando

Gravura de Edward Hopper

De porque meus poemas são curtos

Viva a cultura de massa
O circo
O pão de graça

E há quem diga
Que a vida não
Passa da próxima praça.

Há quem viva na desgraça
Quer faça diferença
Quer não faça.
____________________


cinema e música. Como o samba e o carnaval. O cinema nasceu mudo. Aprendeu a falar. Outrora a orquestra, do lado de fora da tela, acompanhava musicalmente, cantando as travessuras do Carlitos. Quando penso em Fellini logo que surgem as melodias do Nino Rota; como dissossiar Woody Allen do jazz; Tarantino dos rocões. A imagem entranha-se do som, parafernálica, espetacular. Essa mistura é a alma mesma de tudo. Há uma necessidade premente de preencher os vazios, os silêncios. Entre o começo e o fim só há o silêncio, a espera. E enquanto essas coisas acontecem nossa mente, nosso corpo precisa ver, ouvir, sentir. A sensação da música provoca a emoção que a imagem em si não traz. Ou o mito de que todos temos uma canção trilha de nossas vidas, gostaríamos todos de naquele momento, em que os olhos se cruzaram e o beijo aconteceu uma canção tocasse ao fundo, violinos, a voz da Billie Holliday entupisse nossos ouvidos de sentimento e passaríamos a ouvir nada além de nossas próprias vozes.


Luisandro vai escrever aqui nos sábados algo de segunda até terceira ordem...

L. M. de Souza 3:02 PM


sexta-feira, agosto 11, 2006
Procura-se

Procura-se sujeito para namoro mesmo, com todas as neuroses que acompanham o dito tipo específico de relacionamento - incluindo-se cenas de ciúmes, gritaria que termina depois com os dois na cama loucamente, bilhetes suicidas, crises de euforia e depressão, e lágrimas, muitas lágrimas de ambas as partes - que possua as seguintes características, por favor anote e vá tickando:

- More longe o suficiente para deixar a relação mais neurótica e interessante mas não tão longe que cause falência financeira por gastos de viagem.

- Não seja nem tão jovem, nem tão velho. Dá-se preferência por uma mistura de total inexperiência com perversões estranhas de grande imaginação, mas tem que ser no mínimo maior de idade porque, sabe como é, a lei existe.

- É necessário, por favor, que tenha um cérebro funcional e em uso. - Tem que ser ciumento.

- Conhecimentos em mitologia, literatura variada, música pop e bizarra, escritores malditos, poetas estranhos, termos em latim e grego, saber diferenciar um Miró de um kandinsky não é essencial, mas seria muito bem-vindo

- Conheça Shakespeare, e tenha lido pelo menos Hamlet, Othelo e Macbeth, por favor. Inteiros.

- Falar um pouco de francês seria adorável. Não, eu não falo francês tão bem assim, mas eu adoro o sotaque.

- O candidato não precisa ser muito alto nem precisa ser musculoso, mas tem que ter um certo charme. Confira a si mesmo no espelho antes de enviar uma foto. De preferência enviar fotos de si mesmo, não de terceiros. Causa uma certa confusão.

- Tem que ser bonito. O que eu quero dizer com isso? Ah, não dá para explicar, o meu conceito de beleza é no mínimo curioso.

- Pode mentir, mas não exagere. E não reclame quando eu descobrir as mentiras, eu sou boa nisso.

- Eu adoro homens tímidos. Eu não ligo se for do tipo intelectual, retraído e esquisito. Hummmm, eu ligo sim, fica mais interessante.

- Goste de brincar de gato e rato. Tenha consciência que o gato sou eu.

- Senso de humor e ironia são imprescindíveis, sarcasmo será suportado, mas sem exageros.

- Deixe todas as mães fora disso.

- Tem que ter telefone. Celulares são bem vindos. Telefone fixo é imprescindível. Em caso de interurbano, a conta é sua.

- Precisa ter em mente que eu sou uma mulherzinha insuportável sim, não é charme meu, não. Je suis adoráble, mas je mords, you know.

Alguém se habilita?

ludelfuego 9:51 AM


terça-feira, agosto 08, 2006

OS ESCAMBALISTAS ESTÃO CHEGANDO ou um anti-manifesto de um anti-movimento

Caio Ricardo Bona Moreira


(Carnaval, de Di Cavalcanti)

Permitam-me, queridos colegas de blog e virtuais leitores, dirigir aos vossos ouvidos uma anti-palavra, um ante-projeto, um anti-manifesto; aquele que assume, por meio de sua negação, a afirmação sublime de um imaginário outro lado, uma contra-palavra. Traz mais uma ceva, garçom! Escrever num espaço em que todas as coisas não têm começo ou fim, apenas meio. E esse meio é de meias verdades (digo a verdade, logo sou mentiroso) e vaidades e não parece ter outro fim a não ser sempre apenas um sempre começo. Digo isto, pois essa é a nossa liberdade, já não importam mais as capas e as editoras. As capas revelam só um lado das nossas caras e os leitores de poesia estão de ouvidos quase cerrados. Que importa o livro se a palavra soa? Queremos a poesia teimosa, da palavra táctil. Queremos aquele instante além do instante dos braços fechados das orelhas dos livros. O ESCAMBAL o nosso livro, OESCAMBAL a academia, OESCAMBAL a ANTAlogia, a anti-palavra, a anti-polissemia. Saudações, poetas e críticos, que venha a poesia e o resto que vá pro escambau. Mãe, vem ver! Já começou o carnaval. Os escambalistas estão chegando!

c.moreira

caio ricardo bona moreira 11:57 AM


segunda-feira, agosto 07, 2006
exposição


L. M. de Souza 12:49 PM


terça-feira, agosto 01, 2006
forthcoming

em construção, breve, a agenda de publicações começa...

L. M. de Souza 11:59 AM



Literatura, lixeratura, Música, Cinema, Teatro e outros bordéis.

Adriana Scarpin- domingo
Luisandro - segunda-feira
Caio Ricardo- terça-feira
Juliana - quinta-feira
Lucila - sexta-feira
Flora - sábado
orig.obsc.; talvez relacionado com a raiz de cambada, com alt. de sufixo para -al 'grande quantidade' e depois grafado com -u, seguindo a pronúncia do -l final, predominante no Brasil, *os cambal > *o scambal > o escambau, ou ainda da raiz de 1cambo/1camba, por processo semelhante; levantou-se ainda a possibilidade de o voc. originar-se de *os cambau > *'s cambau > *scambau > escambau, hipótese que se poderia admitir do ponto de vista da fonética sintática, mas que seria de difícil sustentação do ponto de vista semântico.pode significar ao mesmo tempo: algo que não é verdade, grande quantidade, uma coisa incrível ou a expressão "e muito mais" ... e o escambau
(...)
ADRIANA SCARPIN

Eu existo. Ou não. Visite seu blogue.

CAIO RICARDO

Eu estou poemando, logo existo, ou pelo menos insisto. Essa é uma das minhas meditações, uma espécie de mantra semântico, esse é meu canto assintático. . Visite seu blogue.

FÁBIO CEZAR

Carioca, graduado em Letras, é poeta, músico e professor. Participou como guitarrista e compositor em bandas de rock na cena underground. Escreve em colaboração a revistas, jornais e sites culturais. Editou o zine literário Falárica em edições eletrônica e panfletária, através do qual divulgou sua poesia e de outros poetas e prosadores. Mantém o blog Tediário Poetético .
, laboratório poético onde expõe suas "hipatéticas experiências eletro-estéticas". É autor de Polivocalia (e-book, ed. do autor), além de outros poemas, artigos, ensaios, crônicas e uma peça de teatro inéditos. Visite seu blogue ou site.

FLORA HANNAH

Flora Hannah ou Graciele Tules, a Graci?! Você é quem sabe. Flora é a criação, Graci é a criatura, além de uma pretensiosa aspirante de professora, fotografa e poetisa. Ela nasceu em 1981, em Joinville, e passou a infância ajudando seu pai a arrumar o encanamento entupido. Hoje passa os dias a contar e assassinar moscas. Visite seu blogue

JU REPCHUK

Olho o tempo passando pela janela do meu quarto. Tenho teorias malucas. Ando lendo revistas em excesso. Ando rindo em excesso. Ando grávida. Ando professora de inglês. Ando a pé. Ando mascando o chiclete. Paranaense cosmopolitana. Otimista com as pessoas. Comigo mesma. Aprendendo o manuseio correto das palavras. Conhecendo novas bandas de rock. Apaixoanda por lecionar, por cantar, por namorar... Prefiro o PC à TV. Adepta do widescreen e linguagem original no vídeo. Aprendendo Francês. Tendo uma queda no Alemão. Ainda tenho muito que aprender do Inglês. Da vida.

LUCILA

Pinto (ops), bordo, chuleio, crocheteio e tricoteio, não dirijo e nem ando de bicicleta, tenho talento pra finanças e pro desenho, encanto mais do que canto e a única coisa que quero aprender a tocar é a alma das pessoas. Sobre artes não sei muito, menos ainda da arte de amar. Leio muito menos do que gostaria e muito mais do que as pessoas que convivo. O sol em aquário faz com que a tecnologia e o novo guiem minha vida, a queda que tenho pelo belo, pelo sofisticado e pelo erótico, libra explica. Amo os animais até mesmo aqueles que partiram meu coração. Tenho um sorriso farto e fácil, boca bonita, lágrimas escassas, um bom humor praticamente inabalável e dificuldade de chorar apesar das dores. Me apaixono todos os dias, quase sempre pela pessoa errada, amar amei pouco e fui amada por muitos, não sou uma pessoa de fácil convívio apesar da primeira impressão. Não ligo para presentes, mas sou movida a elogios. Gentilezas e educação me conquistam instantaneamente. Prefiro lambidas à mordidas, mas não me provoque... Visite seu blogue.

LUISANDRO

Catarinense de nascimento, Paranaense de coração. Professor, pô(eta!), apaixonado por Dalton Trevisan, Fernando Pessoas, Woddy Allen e é lingüista também só pra variar. Desvive em Florianópolis (infelizmente não na ilha). Só não fugiu com o circo porque a única coisa que saberia fazer é alimentar os animais. Quer publicar um livro e fazer um filho (um dia desses de chuva, quem sabe?). Visite seu blogue.
    selos

    Clique aqui para entrar

foi pro beleleu
julho 2006 / agosto 2006 / setembro 2006 / outubro 2006 / novembro 2006 / dezembro 2006 / janeiro 2007 / fevereiro 2007 / março 2007 / março 2008 /



Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com
Powered by Blogger