Imagino como deve ter sido o primeiro instante fora do paraíso: Adão e Eva ali, ambos pelados, perdidos. Sem consciência do sucedido. Ele olha para ela, nua, corpo bem bronzeado, no paraíso é sempre verão, não há marquinhas de biquini, isso vai ser inventado muito depois. Seios firmes, nádegas bem delineadas e com uma relvazinha loura cobrindo toda essa extensão. Ele nem tinha reparado. Ela com um ar de alheamento, de pé, fitava o horizonte descortinando-se em tons de lilás, cruelmente belo como todos os crepúsculos. Que fariam. Suspeitava da hostilidade de outros animais e ficou com medo. "Que faremos, Adão?" Ele ainda imerso na contemplação imaginava por onde começaria a beijá-la e que gosto teria seu ventre, qual seria o gosto do pecado? Maçã? "Ahn, que que você falou?", "Deixa pra lá..." Ele não entendeu e voltou ao que estava fazendo. Uma brisa fria soprou do sul e eles sentiram um arrepio para o qual ainda não tinham nome. Acho que precisamos de abrigo. Ela olhou para o homem e percebeu que estava sem nada sobre as suas vergonhas, ela que nem viria a saber que aquilo ali era uma vergonha, e achou melhor cobrir com alguma coisa. "Precisamos de algo para nos proteger do vento.", "Bom, já que foi você quem mordeu a maçã, talvez encontre um modo de nos abrigar do frio". Deus, que tudo observava resolveu complicar as coisas e fechou o céu, súbito o céu enubla e escurece o fim da tarde tremendo a terra com algumas trovoadas. Será que vem chuva? Ela resolve caminhar sem direção ao que ele sem alternativa resolve seguir. "Para onde vai?", "Não sei, vamos ver onde minhas pernas nos levam?", ele já excitado olha para suas pernas grossas e fica imaginando como seria estar todo enrolado naquelas hastes fortes. "Eva, o que acha de pararmos um pouco?", "Não antes de acharmos um abrigo para passar a noite, e precisamos achar o que comer", sempre tomando a iniciativa, ao que ele amolece em seguida baixando a cabeça já saudoso dos tempos de bonança. Ela avista uma elevação e parte em direção à ela, "Talvez lá encontremos abrigo", "Um cobertor, uma lareira, uma garrafa de vinho e o telefone de um delivery de comida chinesa", "O que que você disse, Adão?", "Nada não", pensou que poderíam ter fósforo pelo menos. Instinto feminino quase sempre infalível: avistam uma abertura na rocha. "Adão pegue alguma coisa para nos defender caso haja alguma criatura na toca", "Fazer o quê", pegando uma lasca de madeira do chão. Entram na toca, ela dá um grito e não escuta resposta, fica preocupada enquanto Adão pensa no que terá para comer no jantar, "Eva o que vamos comer", "Vamos ter que procurar (Deus poderia ter me arrumado um Adão melhorzinho)", "E a maçã?", "Que maçã?", "Sobrou um pedaço..."
Por Luisandro Mendes, visite meu blogue
L. M. de Souza 2:12 PM