INSPETOR HERCULE POIROT NO PAÍS DA GRAMÁTICA
(OU DE LINGÜISTA E LOUCO TODO MUNDO TEM UM POUCO)
Se a famosa frase do Chacrinha tivesse sido dita por Chomsky ou Rodolfo Ilari, certamente o bordão teria virado filosofia. "Comunicar e trumbicar é só começar" é um livro pelo menos instigante. Não porque fale de linguagem de língua de gramática e dessas coisas todas que os lingüistas, poetas, críticos e filólogos gostam de falar durante um cafezinho, um olhar de esguela na bunda da colega gostosa. Não. falar destas coisas qualquer livro faz. qualquer gramática faz.
Se o que nos define enquanto humanos é o instinto da linguagem, no dizer de Steven Pinker, o que nos define ainda mais como seres são as troças, chistes, pândegas e jogos que fazemos com as palavras, e a nossa exuberante capacidade de criar jogos com as palavras.
Depois do delicioso "Emília no País da Gramática" fica difícil escrever algo acessível sobre a língua portuguesa sem fazer algum tipo de comparação. Monteiro Lobato sacou o espírito da língua, quando o que de mais científico se havia sobre língua eram as gramáticas. E olha que de científica elas tem muito pouca coisa. O País da Gramática do Inspetor Hercule Poirot é montado com pecinhas de Lego. Sabe aquelas pecinhas de encaixar? Pois é, a língua é assim também. E o que sai da montagem das pecinhas, frases, períodos compostos por coordenação subordinação, parágrafos, poesias, textos quaisquer nada mais são do que o resultado da concatenação destas peças.
O ilustre lingüista, e também jurista, Pepe Esborracha, deslinda os meandros de uma língua que pode ser acessível para todos. Com ela namoramos, vendemos, trabalhamos, pensamos e alhures. Se sabemos reconhecer com incrível capacidade quando estão falando algo estranho, quando o sotaque é diferente, quando a palavra é diferente, quando o português é de Portugal, ou caipira, decerto havemos de possuir algum tipo de "intuição" sobre a língua. E é neste aspecto que o trabalho ganha vulto. Dizer para nós incultos e leigos no assunto que tal "intuição" sobre a língua é essa. Sem academicismos ou uso do jargão científico que tanto afasta o leitor comum interessado nos assuntos da língua, a descrição da nossa capacidade nata para reconhecer o que são as frases bem construídas, um advérbio mal colocado, um complemento verbal sem preposição, a posição dos itens interrogativos, quem, o quê, quando, onde, e por aí afora.
O livro não toca na língua escrita. Para quem não é do ramo, a língua escrita é artificial, precisa-se aprendê-la na escola. Para falar sua língua materna ninguém vai à escola. E a ocupação deste trabalho é mostrar como podemos também pensar seriamente a língua falada, mostrando como as pesquisas na psicologia, filosofia, inteligência artificial, lógica, ciências cognitivas em geral, também podem e estão auxiliando no estudo das línguas naturais. E o que estes estudos podem mostrar sobre a nossa capacidade de falar qualquer língua.
Que o leitor não tema um livro sobre língua, porque não apenas professores das línguas, acadêmicos de letras, se interessem pelo livro. O livro destina-se a um público bem mais amplo: jornalistas, advogados, sociólogos, antropólogos, filósofos, publicitários, estudantes. Um livro para ser lido nas escolas. Comentado nas mesas dos bares. Porque já estava na hora de surgir mais um livro na luta contra o mito da dificuldade de se estudar a língua, e da ciência da linguagem enfim adentrar nos bancos escolares.
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L. M. de Souza 10:44 AM