Faz algum tempo que não falo nada de cinema. Resolvi falar porque este filme foi uma descoberta. Enquanto as locadoras e cinemas continuam sendo recheadas por besteiras, ver um filme inteligente sempre agrada. E principalmente um drama inteligente. Se passa na cidade do México assim como poderia ter se passado em qualquer lugar do mundo. Porque o exterior é apenas um lugar geográfico onde as pessoas habitam, nada mais.
Não há uma grande história de amor que será resolvida no final. Pelo contrário. As histórias não resolvem. As tensões iniciais instauram-se e quando pensamos que elas enfim podem ficar pacíficas como as águas depois da tempestade. Não! Logo vemos o mar avolumar-se novamente. Como conseqüência não há personagem principal. A personagem principal é o enredo.
Três histórias. O modo como a vida das pessoas se cruza, e as conseqüências que isso causa (teoria do caos?). Toda ação provoca uma reação (óbvio), e o fio que parece amarrar todos estes deslindes passa pela imagem dos cachorros.
Por que cachorros? Por que a tradução de "perros" para "brutos"? apesar de ser um ser essencialmente doméstico os cachorros ainda são animais. E como tal, o instinto aflora em momentos bem marcados. Como o hotweiller que sobrevive a um tiro, é socorrido pelo assassino de aluguel, e depois de curado mata todos os outros cães do homem que o acolheu e cuidou. A própria arena de briga dos cães é de fato isso. essa nossa necessidade premente de violência, de sangue, de causar dor alheia (mesmo em nível inconsciente).
O jovem apaixonado pela mulher do irmão, e quer fugir com ela, o publicitário infeliz no casamento que larga a esposa para ficar com uma modelo, até que a felicidade rui com o acidente dela, o mercenário que não suporta a saudade da filha, cuja acredita que ele esteja morto.
Talvez seja um filme sobre a busca da felicidade, que não chega sem entrega e sem dor. Talvez nos fale de amores "brutos" mesmo, amores por cães, por pessoas, por dinheiro, por um ideal, por sucesso, por vaidade. É um filme que pode ser sobre tudo isso e mais algumas outras coisas que não devo ter notado. Para mim é um filme autoral. Iñarittu é um dos poucos jovens cineastas que sabem colocar além da sua assinatura seu estilo numa película. É só comparar "21 gramas" e esse "amores" que fica claro a semelhança temática e forma como a narrativa se desenrola e se enrola também. Mas ambos nos fazem pensar e surpreendem.
Luisandro
ps. não consegui postar imagem. encontrei um cartaz muito bom do filme. fazer o quê?