OESCAMBAL
terça-feira, outubro 03, 2006
Caio Ricardo Bona Moreira

O PRIMEIRO CHARUTO DA ÚLTIMA CAIXA

No dia 15 de janeiro de 1928, meu avô, o português Manuel Moreira, decidiu embarcar para o Brasil. Pela última vez, abriu a tabacaria, que tinha sido herdada de seu pai. O pai, por sua vez, também herdara de seu pai. No outro dia, o estabelecimento seria transformado numa confeitaria. O que se passou na tarde derradeira marcou profundamente a vida do velho Moreira.

O último cliente, um senhor magro, com óculos de aro fino, chapéu preto e terno bem passado, comprou a última caixa de charutos. Meu avô, que não se dava facilmente a conversas triviais, demorou a responder a pergunta do homem. “Sim, estou triste”. Aos poucos, abriu o coração amargo, confessando a sua infelicidade. Portugal não era mais o país do futuro. A esperança tinha sido vencida pelo medo: “Não sou nada, nunca serei nada, não posso querer ser nada”.

O cliente tentou consolar o velho Manuel. Em vão. “Tenho certeza de que este país está falido, pá!”. O freguês sorriu e falou: “Não tenha tanta certeza. Em todos os manicômios há malucos com tantas certezas. Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?”. Meu avô frisou os olhos, como sempre fazia toda vez que queria enxergar melhor a falta de sentido das coisas, tentando descobrir se Estêves, que estava parado na sua frente, era um poeta, um filósofo, ou algo do gênero. Meu avô não acreditava em astrologia, quiromancia, filosofia, poesia, democracia. Ele sabia que os homens precisavam acreditar em alguma coisa para que a vida pudesse ser mais do que uma pequena caixa de charutos. Tentou agarrar uma resposta para o cliente, que mais parecia alguém que usava máscaras só para esconder a sua grande melancolia. Por um instante, o velho Manuel pensou que o mundo era uma fumaça de charuto e que toda a vida, de uma hora para outra, poderia evaporar, perdendo-se na imensidão do abismo das horas.

O cliente acendeu o primeiro charuto da última caixa. Pela primeira vez, o dono da tabacaria apreciou com prazer o cheiro do tabaco. Ele preferiu não presentear o cliente com uma resposta banal, como todos os seus dias em Portugal. Deu-lhe o troco.

O homem, que não tinha metafísica, mas filosofava, saiu da tabacaria. Sem se despedir, meteu o troco na algibeira das calças. Atravessou a rua e entrou no hotel, que ficava em frente à loja do meu avô.

Manuel fechou pela última vez as portas do comércio. Como que atraído por um olhar distante voltou-se para uma das janelas do hotel e avistou um outro cliente, Fernando, o circunspeto. Acenou-lhe. Da janela, o cliente gritou-lhe adeus. No Brasil, a esperança seria reconstruída. Pela primeira vez, sorriu para o cliente. Os dois, ou três, tinham, naquele momento, todos os sonhos do mundo.

caio ricardo bona moreira 8:18 AM



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orig.obsc.; talvez relacionado com a raiz de cambada, com alt. de sufixo para -al 'grande quantidade' e depois grafado com -u, seguindo a pronúncia do -l final, predominante no Brasil, *os cambal > *o scambal > o escambau, ou ainda da raiz de 1cambo/1camba, por processo semelhante; levantou-se ainda a possibilidade de o voc. originar-se de *os cambau > *'s cambau > *scambau > escambau, hipótese que se poderia admitir do ponto de vista da fonética sintática, mas que seria de difícil sustentação do ponto de vista semântico.pode significar ao mesmo tempo: algo que não é verdade, grande quantidade, uma coisa incrível ou a expressão "e muito mais" ... e o escambau
(...)
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, laboratório poético onde expõe suas "hipatéticas experiências eletro-estéticas". É autor de Polivocalia (e-book, ed. do autor), além de outros poemas, artigos, ensaios, crônicas e uma peça de teatro inéditos. Visite seu blogue ou site.

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Olho o tempo passando pela janela do meu quarto. Tenho teorias malucas. Ando lendo revistas em excesso. Ando rindo em excesso. Ando grávida. Ando professora de inglês. Ando a pé. Ando mascando o chiclete. Paranaense cosmopolitana. Otimista com as pessoas. Comigo mesma. Aprendendo o manuseio correto das palavras. Conhecendo novas bandas de rock. Apaixoanda por lecionar, por cantar, por namorar... Prefiro o PC à TV. Adepta do widescreen e linguagem original no vídeo. Aprendendo Francês. Tendo uma queda no Alemão. Ainda tenho muito que aprender do Inglês. Da vida.

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Pinto (ops), bordo, chuleio, crocheteio e tricoteio, não dirijo e nem ando de bicicleta, tenho talento pra finanças e pro desenho, encanto mais do que canto e a única coisa que quero aprender a tocar é a alma das pessoas. Sobre artes não sei muito, menos ainda da arte de amar. Leio muito menos do que gostaria e muito mais do que as pessoas que convivo. O sol em aquário faz com que a tecnologia e o novo guiem minha vida, a queda que tenho pelo belo, pelo sofisticado e pelo erótico, libra explica. Amo os animais até mesmo aqueles que partiram meu coração. Tenho um sorriso farto e fácil, boca bonita, lágrimas escassas, um bom humor praticamente inabalável e dificuldade de chorar apesar das dores. Me apaixono todos os dias, quase sempre pela pessoa errada, amar amei pouco e fui amada por muitos, não sou uma pessoa de fácil convívio apesar da primeira impressão. Não ligo para presentes, mas sou movida a elogios. Gentilezas e educação me conquistam instantaneamente. Prefiro lambidas à mordidas, mas não me provoque... Visite seu blogue.

LUISANDRO

Catarinense de nascimento, Paranaense de coração. Professor, pô(eta!), apaixonado por Dalton Trevisan, Fernando Pessoas, Woddy Allen e é lingüista também só pra variar. Desvive em Florianópolis (infelizmente não na ilha). Só não fugiu com o circo porque a única coisa que saberia fazer é alimentar os animais. Quer publicar um livro e fazer um filho (um dia desses de chuva, quem sabe?). Visite seu blogue.
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